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Discurso de tomada de posse da bancada do BE na freguesia de Alverca do Ribatejo e Sobralinho

Caros e caras alverquenses e sobralinhenses,

Estimados representantes eleitos, de todas as bancadas desta Assembleia, da recém-instalada Junta de Freguesia e autarcas de outros órgãos locais do nosso concelho,

Funcionários da autarquia, representantes do movimento associativo, profissionais da comunicação social aqui presentes,

A todos uma boa noite.

Permitam-me que comece por evocar o triste momento que vivemos. Cumpriu-se hoje o segundo dia de luto nacional por uma tragédia que dificilmente encontra paralelo na memória da maioria de nós. É, pois, inevitável que comece por endereçar algumas palavras de agradecimento e do maior apreço àqueles que mais batalharam no sentido de evitar as razões do luto que hoje assinalamos. Aos bombeiros, que gentilmente hoje nos abriram as portas, agradeço o espírito de sacrifício e de missão. São eles os heróis desta semana, deste ano e de todos os anos. Os bombeiros deste país merecem o máximo reconhecimento pela sua bravura, pela sua dedicação e pelo serviço que prestam a todos nós, cidadãos. Junto-me ao sentimento coletivo de consternação pelas irreparáveis perdas humanas, animais, patrimoniais e paisagísticas. O país inteiro sente-se vítima de um ataque ou de uma catástrofe de dimensões sem precedentes.

Estes episódios têm de constituir lições incontornáveis que nos ensinem a não repetir erros. Todos os momentos são bons momentos para agir. Ao nível local, é também necessário que saibamos agir. No âmbito da mais recente transferência de competências para o poder local, foi dada às Juntas de Freguesia a possibilidade de criarem unidades locais de proteção civil, com o propósito de sensibilizar e informar a população local e apoiar a gestão de ocorrências, nomeadamente incêndios. Na nossa freguesia deflagraram incêndios florestais este verão, e impõe-se que a proteção civil seja uma prioridade e esteja organizada localmente.

Mas hoje assinalamos também a democracia. A democracia é um projeto em permanente construção; um sonho nunca acabado e que se vai procurando olhando em frente, tendo bem presente a sociedade que queremos instituir: uma sociedade onde cada cidadão, de cada geração, qualquer que seja o seu percurso de vida económica, as suas realizações profissionais, as suas opções e contextos familiares, possa ter a sua voz, possa ter o seu papel de intervenção pública, possa ajudar a encontrar os caminhos dessa busca coletiva de democracia.

Hoje celebramos a democracia que temos e comprometemo-nos em prosseguir esta busca por uma democracia mais completa, mais cidadã, mais direta e, por conseguinte, mais robusta. Nesta Assembleia de Freguesia sentar-se-ão cinco projetos políticos diversos, cada um com os seus compromissos e com as suas diversas leituras sobre o que são as reivindicações, os problemas e as soluções que coletivamente importam. Cinco projetos políticos que a população, com o seu poder, em urna, julgou com o seu pensamento, a sua consciência, a sua responsabilidade.

Numa democracia há sempre alternativas. Não há vias únicas nem há democracia que se faça sem debate entre ideias e projetos diferentes. O projeto político e cívico do Bloco de Esquerda foi uma das alternativas que os alverquenses e os sobralinhenses votaram. Movemo-nos, desde o nascimento desta candidatura, no sentido de nos afirmarmos como uma alternativa credível, responsável e capaz de dar resposta ao que verdadeiramente importa e voz àqueles que pediam mudança. Construímos uma lista e um programa numa base profundamente aberta e participada. Este espírito de assumida abertura e de inteira vontade de renovação juntou muitos cidadãos, sobretudo jovens, que nunca haviam estado ligados a qualquer partido político. Esta candidatura conseguiu mobilizar jovens adultos e adultos que sempre haviam estado afastados da política local até verem neste projeto a vontade para fazer algo diferente, algo novo, algo capaz de trazer uma mudança real pela positiva.

Nos tempos que vivemos, de consolidação da democracia e em que a sociedade se vê perante novos desafios que exigem uma mudança de postura e um corte com soluções que caracterizaram o passado e que, tantas vezes, falharam, este espírito de abertura, esta abordagem de renovação e de participação teve os seus resultados. Em peso relativo, esta foi a candidatura que mais cresceu. Face a 2013, o Bloco de Esquerda duplicou a sua votação e duplicou a sua representação nesta assembleia. No dia 1 de outubro, a população pediu mudança. Trazendo novas gentes e novas ideias, esta candidatura foi a alternativa que mais se afirmou neste contexto de mudança.

Desde aldeia tipicamente saloia, passando por vila industrial, muitas foram as transformações profundas de ordem económica e social, ao longo do último século, que resultaram na freguesia que temos hoje. Ainda estamos, contudo, a tempo de decidir que cidade queremos ser. Queremos ser uma freguesia que saiba discernir o útil do desnecessário, o prioritário do que importa menos, e que consiga tomar as opções certas. Uma freguesia que seja limpa e conservada com equidade, que seja mais verde mas sem desperdício de água. Que tenha mais árvores, mas que saiba escolher espécies que sejam da região e que sejam adequadas ao espaço urbano. Uma freguesia que não utilize herbicidas à base uma substância cancerígena. Uma freguesia que se imponha e que exija o encerramento do Aterro do Mato da Cruz no prazo contratualizado, sem mais adiamentos, e que exija a recuperação ambiental desse espaço. Uma freguesia onde haja maior diversidade de oferta cultural, para todos os gostos e todas as idades. Uma freguesia que seja amiga, que não exclua nem descrimine no acesso a serviços, a emprego, a oportunidades de uma vida com qualidade, ou no próprio espaço público. Uma freguesia onde ter automóvel não seja um requisito e se afirmem alternativas de mobilidade leve e limpa. Uma freguesia onde se possa trabalhar e onde se queira viver, e não uma freguesia aonde se tenha de ir dormir. Uma freguesia cuja autarquia dê o exemplo e não recorra a formas de precariedade laboral. Uma freguesia que valorize o seu passado, a memória viva daqueles e daquelas que a formam, e que saiba enquadrar a estima dessa memória num projeto de olhos postos no futuro. Uma freguesia que saiba construir uma comunidade que faça da cidadania um projeto comum. E nenhuma comunidade exercerá amplamente a sua cidadania se não se construir um sentimento de identidade partilhada, se a população não sentir que faz parte de uma mesma ideia pela qual vale a pena falar, debater, tomar decisões, trabalhar. Esta freguesia, em larga medida, está por cumprir.

Nenhum partido, nenhum representante, pode substituir-se aos cidadãos. Tudo faremos para mobilizar os cidadãos e o movimento associativo a fazerem as suas lutas. Queremos ouvir todos e todas, e queremos que nenhum projeto, nenhuma intervenção, nenhuma obra avance sem que sejam verdadeiramente ouvidos os cidadãos. Queremos construir uma democracia em que todos e todas tenham o seu lugar e não prescindam dele. O Bloco de Esquerda estará aqui para ouvir todos e representar todos, mas nunca tentará substituir-se à sociedade civil, porque a democracia morre aos poucos quando os partidos se julgam suficientes para a busca de soluções.

Nesta Assembleia, a bancada do Bloco de Esquerda nunca cairá em jogos de tática político-partidária. Votaremos sempre favoravelmente a propostas que consideremos benéficas para a nossa terra independentemente de quem as propuser. Jamais hostilizaremos qualquer outra força política e escutaremos sempre em silêncio e com respeito as suas intervenções, mesmo quando não concordarmos com o seu conteúdo. Comprometemo-nos a acrescentar seriedade ao debate político local e continuaremos, como sempre até hoje, a introduzir nesse debate novas questões, novos desafios, soluções inovadoras e abordagens transformadoras. Prestaremos sempre contas. Estaremos sempre disponíveis para ser a voz de qualquer cidadão e de qualquer cidadã que tenha reivindicações justas e preocupações com o bem-estar coletivo. Nunca fecharemos este projeto, esta candidatura, porque ela nasceu para ser aberta e agregadora. Estamos nesta Assembleia para, como nos propusemos durante esta campanha, reivindicar uma abordagem política nova e fazer uma política diferente, com toda a gente. A democracia é uma construção que fazemos juntos.

Caros eleitos e caras eleitas desta Assembleia. No passado 1 de outubro, metade da população elegeu-nos como seus representantes e metade da população absteve-se de eleger um projeto político. Uns e outros, porém, esperam que o trabalho desenvolvido por esta Assembleia seja conducente a respostas eficazes aos vários problemas sentidos pelas nossas gentes no nosso território. É fazendo um trabalho sério, responsável e em contacto permanente com a população que conseguiremos merecer a confiança e a aprovação de mais cidadãos e cidadãs e, por conseguinte, credibilizar as instituições do poder local democrático e dar energia e vigor à democracia. Faço aqui votos para que o trabalho de todos nós, ao longo do mandato que hoje assumimos, venha a resultar numa melhoria observável da qualidade de vida de todos e de todas que residam, trabalhem ou estudem na nossa União de Freguesias.

O trabalho começa hoje. Abraçamos com responsabilidade e motivação este desafio e este compromisso. Contem connosco, contem com o Bloco de Esquerda. Viva a democracia. Viva Alverca do Ribatejo. Viva o Sobralinho.

 

João Fernandes

P’la bancada do Bloco de Esquerda