Senhores eleitos e Senhoras eleitas dos órgãos autárquicos do Concelho de Vila Franca de Xira e da União de Freguesias de Alverca do Ribatejo e Sobralinho
Senhores e Senhoras representantes das instituições, associações e coletividades da freguesia e do concelho;
Senhores e Senhoras que tornam possível este nosso convívio esta noite;
Minhas Senhoras e meus Senhores;
O dia que nos junta aqui hoje, o 25 de abril de 74, teve a importância de ser um dia em que o poder mudou de mãos. Graças a uma revolução que havia tanto tempo se esperava, o poder de decidir o sentido da nossa vida comum, partilhada, em sociedade, foi entregue a quem ele sempre deveria ter pertencido: a todos os portugueses. Ao povo foram dadas a democracia e a liberdade e, com a liberdade, foi dada ao povo a possibilidade de sonhar, de pensar, de construir, de caminhar, de escolher.
A liberdade é um bem de invulgar preciosidade e raridade, pois a sua conquista não nos faz donos dela. Ganhar a liberdade, por si só, não nos faz viver livres. Há, na liberdade, uma permanente ameaça de fim. Ser livre – ser realmente livre - implica conquistar e reconquistar a liberdade a cada dia, a cada hora, vivê-la como se não vivêssemos sem ela, reinventá-la para lhe darmos vida, usá-la sem a desperdiçarmos e sem a despegarmos, e deixar que os outros a usem; partilhá-la, conservá-la; ser ousados na sua defesa.
É por essa razão que um povo que ganha a sua liberdade, ganha também algo igualmente grande e que vive de mãos dadas com essa liberdade: a responsabilidade: a responsabilidade de a manter, de a repensar permanentemente, de a avaliar, de a dar em iguais quantidades a todos e a todas, e de refletir séria e generosamente sobre o que fazer com ela.
A liberdade de escolha que conquistámos, enquanto povo, coloca-nos em permanência perante as mesmas questões: o que queremos ser? Aonde queremos chegar? O que queremos dar uns aos outros? Que progresso pretendemos?
E é juntos que temos de encontrar as nossas respostas. Um país não saberá viver livre, ou preservar a sua liberdade, ou dar-lhe o valor que ela tem, sem uma sociedade civil consciente, atenta e desperta. A Revolução dos Cravos, que hoje recordamos, não se teria feito se a sociedade civil estivesse adormecida: ela estava latente, ansiando soltar-se e escolher o seu caminho. Juntos, não podemos hesitar, dia após dia, construir um pouco mais de um país em que todos e todas sejam escutados, respeitados e tidos em conta; em que todos e todas sejam chamados e acolhidos. Um país em que a todo o cidadão seja reconhecido o direito a ser diferente com direitos iguais. Um país em que a cada geração seja pedida a opinião e onde ninguém seja deixado atrás.
Para todos nós, mais de quarenta anos depois, o 25 de abril continua a ser a metáfora de um sonho que fez, faz e fará sentido. Porque faz sentido lutar por uma educação igual para todos e tendencialmente gratuita; por um serviço público de saúde que cuide de todos; por direitos laborais justos para que ninguém seja escravo de ninguém nem dono de ninguém; por uma casa para habitar cujos preços um cidadão comum possa pagar; por uma cultura que nos eleve e nos faça mais livres; por um posicionamento internacional que não coloque em causa a soberania do povo; por um sistema económico que se ajuste ao desígnio maior de bem-estar para todos; por um sistema político cujo foco seja a construção da felicidade coletiva; por leis que nos tornem efetivamente iguais enquanto cidadãos, enquanto portadores de direitos e de deveres iguais.
É esse o país que queremos fazer. Mas esse país não será concretizado sem uma nova, renovada e permanente revolução cidadã. Só a mobilização de todos e de todas, hoje e sempre, pode reconquistar a cada dia a democracia e continuar a escrever esta bela história de liberdade.
E terminarei, por isso, com quatro pequenos conselhos: sonhemos; vivamos inquietamente; atuemos; sejamos livres.
Viva o 25 de abril! Viva o país de abril!
João Fernandes
Eleito do BE na Assembleia de Freguesia de Alverca do Ribatejo e Sobralinho
24 de abril de 2018