Boa noite a todas e a todos,
Não nos esqueçamos por que estamos aqui hoje, devemos este dia a milhares de Mulheres e Homens que, antes de eu e muitos de nós cá estarmos, lutaram e resistiram anos para que pudéssemos viver em democracia e liberdade. A todas elas e todos eles o meu mais sentido obrigado! Estamos aqui hoje a celebrar uma revolução, nem todos os países têm uma para celebrar, e ainda há povos que lutam pela sua.
A solidariedade e a fraternidade são valores de Abril, por isso não posso deixar de proclamar Liberdade para os presos políticos na Catalunha! Ninguém pode e deve ser preso por razões políticas e quem está preso por um processo político é um preso político, aqui e em toda a parte. Como democratas e defensores orgulhosos do 25 de Abril, só podemos estar de um lado, não haja margens para dúvidas, não invoquemos ou nos refugiemos aqui em qualquer aspecto formal ou legalista, porque estes políticos independentistas têm respeitado a democracia e têm resistido pacificamente à violência de Madrid. Não nos esqueçamos, são políticos eleitos pelo seu povo, com um programa independentista que estão a pôr em prática e são exilados, perseguidos e presos por isso. Uma democracia não pode permitir isto. Uma democracia não pode ter presos de consciência. E isto nem deve ter nada que ver com o facto de simpatizarmos ou sermos favoráveis ou não com a causa da independência, isso devem ser os catalães a decidir; o que não podemos é ficar indiferentes ao esmagamento das pessoas que defendem essa causa que até foi validada nas urnas, apesar da violência para quem quis expressar o seu voto. E também não podemos permitir ou ficar tranquilos quando começamos a assistir em várias partes do mundo à judicialização da política porque, como diz a canção, “o fascismo é uma minhoca que se entranha na maçã, ou vem com botas cardadas ou com pezinhos de lã”. Cada vez parece mais que vem com pezinhos de lã. Estejamos atentos e llibertat per a Catalunya!
Como diz a canção:
Naquela madrugada quisemos saber quem somos, o que fazemos aqui?
E, (como proclamou Sophia) antes de ser a madrugada que todos esperávamos, o dia inicial inteiro e limpo onde emergimos da noite e do silêncio
antes disso, foram demasiados anos de escuridão e de silêncio;
de prisões, degredos, exílios e guerra;
de guerra meus irmãos de guerra;
Era um país onde medrava o bolor e o medo;
onde os algozes eram senhores e os trabalhadores eram servos;
onde os bufos se alimentavam do medo que engordava industriais
e onde a guerra sustentava generais……
A guerra meus irmãos a guerra…
só sepultava pobres.
Um país onde havia músicas, livros e pessoas proibidas, sim pessoas proibidas
e ideias, até ideias proibidas.
Um país onde havia notícias coloridas a azul e jornais clandestinos trocados de mão em mão,
um país onde trabalhadores eram torturados pela fome
e o suor do rosto não comprava o pão;
mas nutria o patrão.
Um país de crianças descalças e analfabetas, mas onde latifundiários tinham sempre as suas têtas.
Houve muitos que lutaram por um outro ideal e tantos que tombaram por um outro Portugal; à miséria muitos disseram não, mas aguardavam carcereiros na prisão;
quantos gritos contidos?
quantas lágrimas rolaram em rostos curtidos pelo trabalho e pelo sol?
quantas crianças choraram sem côdea de pão?
quantos homens nunca foram meninos, aqui nesta terra e noutras demais?
quantos homens nas prisões cheios de ideais?
Em Maio nos campos do Alentejo nasciam papoilas tingidas vermelhas do sangue de Eufémia.No Tarrafal heróis tombavam, em Caxias encarceravam, no Aljube vozes calavam
e em Peniche sonhos soltavam-se;
e a mando da tirania desembarcamos sangue em terra alheia;
quantos soldados em negra pátria caíram?
quantos órfãos e órfãs, viúvas, mães sem filhos, filhos sem pais;
e quantos vivos regressaram mortos?
tantos estropiados da opressão e wiriamu, quantos monstros à solta em wiriamu?
mas num oceano de esperança, vogava um navio a quem bravos homens baptizaram, de Santa Liberdade;
e nas Caldas em Março houve um prenúncio da primavera;
havia quem ousasse um país novo e em África soldados aprendiam a plantar cravos;
naquela madrugada na rádio ecoou uma canção de liberdade;
um poema que pôs fim à opressão;
houve capitães a quem não domaram a vontade, de conquistar a liberdade;
e os tiranos acoitaram-se num largo, que se encheu de esperança;
um largo onde pulsava um país;
esse país encheu ruas, praças, avenidas;
de gritos, palavras, ideias e risos e tantas vozes a quererem ser Grândola;
um país libertado da esperança algemada;
um país resgatado à escuridão condenada,
e viveram-se amores e paixões até aí proibidas e outros amores até saíram do armário;
já não era um sonho, era a liberdade parida;
uma semente florida;
nunca um dia foi tão comprido, nunca um dia foi tão vivido!
Viva o 25 de Abril!
Viva a revolução, aqui e onde for necessário!
Alhandra 24 de Abril de 2018